segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Pra quem tava morta...


Pra quem tava morta, 2007 até que foi um bom ano. Pensando bem, sim. Fiz uma porção de coisas inimagináveis em outra época. Retomei minha autonomia. Retomei meu trabalho. Retomei minha auto-estima. Só por isso, já estaria bom. Ainda fiz mais coisas. Viajei, o que nem nos meus sonhos mais doces teria imaginado fazer nesse ano (e andei de avião, hehe). Me desafiei em muitos aspectos. Dirigir na estrada, assumir disciplinas que não tinha domínio, estudar pra concurso em três dias, andar por lugares desconhecidos sozinha, deixar minha filha ir... Saldo positivo em tudo. Mas o mais importante foram as relações. Comecei amizades novas, com pessoas que me acrescentaram, Raquel, Jocasta, Alessandra, Sama, Silvia, Mari, Marcos, Paula, Sirlei, Antonio, Wiliam, Daniel, Leo, Gláucia; e que me fizeram pensar, Vanessa, Dai, Denise. Reforcei encontros antigos Sonia, Vivie, Gisa, Maria Luciane, Sabrina, Orlando, Fernando, Jô. Tive crises com amigos antigos, Ju (nossa amizade subiu um degrauzinho...); de outro me despedi definitivamente, agora sem mágoas. Recebi prova de amizade que jamais imaginaria, Bugra. E o amor de sempre, Nilza, Fernanda, Elenize, Leon e dos meus queridos do Garra, que amo todos e todas. Tive relaçãoes que tudo prometiam e não deram em nada, outras que nada prometiam e ainda estão... Enfim, pra quem tava morta...

E 2008? Bom, há um ano e meio aguardo, por causa de uma previsão: "2008 será o teu ano". (2+8=10, carta da Roda da Fortuna, mudança radical). Ansiedade. Esperei 2007 passar. E ei-lo. E realmente promete. Se tudo se concretizar, vai começar bombando. Se foram medos, receios, as tranqueiras, diria Wangmo. Resta limpo, claro, sereno.

É Bugra, acho que saí da crisálida. Como você disse, não estou perdida, estou é achada. Mas vou manter esse espaço de reclusão voluntária.
Bom ano pra todos nós. E que 2008 seja o nosso ano. Abraço todos e também àqueles, que por lapso, esqueci de citar.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

cementerio


Bom...

retomando os escritos, retomo os temas. Dentre, os sonhos com cemitério. Diferente, dessa vez. E me reporto à Recoleta, cuja visita me impressionou um tanto (ainda a morte, ainda mães, filhos). O meu sonho dessa vez foi diverso. Não entrei no cemitério, antes, desviei dele, seguindo os conselhos de uma guia jovem, não muito confiável (que remédio, não havia ninguém mais que soubesse o caminho!). E me entreguei a essa sacerdotisa. O bom é que me dei bem, consegui desviar do cemitério e cheguei ao topo da caverna e à luz. Seguia a um lugar onde deveria dar aula. O que tenho que fazer com esse desafio de buscar a interpretação simbólica a partir de outra vertende (nova pra mim, que soy una junguiana), a semiótica (sempre fui encantada por Umberto Eco, agora resta o aprofundamento... ufa!!!), para poder exercer minha nova função no curso de Design. E o caminho desconhecido? Tenho que ir de carro algumas vezes e andar de um campi a outro, com umas centenas de quilômtros entre eles. Medo? Sim. Mas confio nessa sacerdotisa jovem e impetuosa que carrego comigo e que pode ter sido a responsável por muita coisa. E termino com Borges, que escreveu sobre a Recoleta (não parece que ele fala da impermanência, Oh Padma Wangmo?). "El espacio y el tiempo son normas suyas, son instrumentos mágicos del alma, y cuando ésta se apague, se apagarán con ella el espacio, el tiempo y la muerte, como al cesar la luz caduca el simulacro de los espejos que ya la tarde fue apagando."

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Lambida


Então...

Tanta coisa pra falar e ao mesmo tempo tanta coisa sem necessidade de sair pra fora. Isso mesmo, a Vanessa pedindo pra escrever sobre a viagem, mas parece que não há necessidade. Talvez o que aconteceu tenha bastado e as palavras sejam supérfluas. Pode ser que eu esteja processando e depois vou soltando o verbo. Uma coisa posso dizer, o que me bateu foi a maternidade desassistida, isso ecoou fundo e provocou um choro incontido na catedral da Plaza de Mayo, (obrigada Sonia, realmente é uma terapeuta, tenha certeza disso). Mostrou feridas não cicatrizadas, vívidas, ainda que negadas (a surpresa, uma mulher que parecia nada ter a oferecer, me deu o maior presente da viagem) . No más, a certeza que estou em casa em qualquer lugar, isso a galera me diz faz tempo, eu que não levava fé. Me virei, me viro. Sou prática, dou um jeito e isso, sempre.

Mas hoje, então o que me impulsiona a voltar? Talvez o fato de estar sozinha de novo, à noite. Minha fiel companheira resolveu trilhar o seu próprio caminho. Raiva, sensação de abandono, um turbilhão de coisas. As cicatrizes, no fundo, ainda são feridas, pequenas, mas, saindo a casca, estão lá e podem sangrar. Que faço eu? Eu esperneio, eu soco, eu grito, eu corro atrás. Eu quero um caminho diferente. Espírito inquieto. Demais!, diria a Ju. Eu lambo a ferida e olho pra frente. E ultimamente tem sido bem gratificante. Estou de volta e vou adiante.

sábado, 27 de outubro de 2007

cantiga

Terezinha, de Jesus,
deu a queda e foi ao chão,
acudiu três cavaleiros,
todos três chapéu na mão.

O primeiro, foi seu pai,
o segundo, seu irmão
e o terceiro foi aquele
que Tereza deu a mão.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

efêmero

Como o bater das asas de uma borboleta...

sábado, 13 de outubro de 2007

real

Não tenho tido tempo de habitar o virtual. Estou me atendo à realidade. A virtualidade seduz, mas a crueza da carne chama. A vida é bem mais clamante. Então, apesar dos apelos dos meus incontáveis leitores, apelos comoventes, eu diria, estou, por certo, em um silêncio de palavras e num alvoroço de ações. Espero que estas rendam algumas constatações partilháveis e publicáveis, porque, de tudo, a gente tem que operar um pouco, sob pena de perder-se em um dos reinos... Vamos ver no que vai dar.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

sonhos II



Pois bem, finalmente decifrei o sonho da mulher morta. Surpresa! Sim, em que pesem todas as situações e conexões que se faz sozinha. Recebi ajuda, pontual, da amiga-terapeuta D. Margarete, como sempre, disposta e entender e ajudar. E eis que a mulher morta não era eu... assim compreendi. Eu resto viva e no momento do sonho já o estava. A morta era outra, o cemitério era outro, o jazigo-casa, outro. E o cuidador optou por cuidar dos mortos e mortas da família. Eis a minha surpresa. Não sei por que, mas são poucos os que conseguem fugir do legado imposto pela família. Há que ser muito forte. Não é o caso. E parei de lamentar, afinal eu era/sou o bicho estranho, não cabia naquele povo-cemitério, me violentava ao entrar lá. Hoje sei, antes não, e o sonho me ajudou. Diz Jung que o sonho é porta do lado obscuro, o pórtico, o portão. Como na foto que escolhi na primeira postagem, sem saber. Há que se ter algum cuidado com o que se entrevê pelo portão, porque dele emergem a ânima e a sombra, arquétipos crepusculares. E um ser possuído pela sombra está postado em sua própria luz, caindo em suas próprias armadilhas. Deus me livre...

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Pois

E Wangmo disse, tom solene: aqui ó, corta, tem que cortar isso, você tem que agir; essa carta é de ação. Tá. E daí? Como cortar? Qual é, afinal a ação pra promover esse corte, essa supressão de sentimentos de dentro da gente? Ela diria, meditação, mudar o padrão. Mas eu que não sou da lida, faço o quê? Extirpar. Difícil. Ou talvez, como Jack, por partes. Melhor. Então vamos lá. Ação! Luzes, câmera: outro conselho, não se encolha. Ursinho. Acho que não estou nem um pouco encolhida, se bem que muito me policio e tento. Acontece que não caibo mais na caixa. Aí danou. Ei! hora de sair da crisálida. Será??!!

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

E Clara disse

finalmente aconteceu:
parei de te carregar comigo para onde quer que fosse.
o tempo cura, diziam, vai passar.
eu apertava os dentes e segurava os olhos.
eu pensava "ninguém entende", eu pensava que entendia.
às vezes os outros sabem das coisas.
hoje passei por aquela praça, aquela praça que me arrastava no chão toda vez que eu via porque foi lá que dei um dos piores adeus dessa vida, você dizendo "eu vou voltar" e eu acreditando, como é que eu acreditei?
eu chegando em casa sozinha, sabendo que você estava entrando naquele maldito avião, eu chorando dias e dias no travesseiro ainda com seu cheiro, dormindo com a sua camiseta, me agarrando à memórias que achava serem o começo.
era apenas um fim.
a imagem de você correndo embora, você correndo atrasado porque passou todos os últimos momentos comigo, aquilo me acabava, me atormentava, não me deixava.
achei que não ia me deixar.
mas seu cheiro foi saindo do travesseiro, da camiseta, você foi aos poucos se apagando, nossas conversas foram perdendo o sentido, se é que algum dia tiveram algum.
agora eu sei:
você nunca entendeu.
e você se foi.
se foi deste chão e agora de mim, sem que eu me desse conta até hoje, quando passei pela praça e pensei "que se dane".
guardo aqui muitas memórias lindas, aquele hotel, aquele show, aquelas brigas, aqueles dias castos com as cortinas fechadas e a minha expectativa por te ver com aquele sorriso de novo.
mas você entrou no avião e agora, meses depois, partiu de mim também.
que alívio.
puxa, que alívio.
era só um amorzinho.
e eu que tentei revirar o mundo.
é que eu sabia que amorzinho pode virar amor,mas acho que você não sabia.
que pena, darling.
really, que pena.

Clara Averbuck disse. Eu assino.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Hiii

Acho que a moça baixou foi nesse corpo mesmo... Preciso, mais que nunca, meditar e exercitar a paciência...

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Que coisa

tem uma coisa que acontece comigo.
tem uma coisa que acontece comigo que eu não sei explicar senão assim:
não fui eu, foi ela.
não era eu, era ela.
às vezes ela fica muito tempo sem aparecer.
e eu me comporto.
de repente, quando eu acho que está tudo sob controle,vem a filha da puta com tudo e acaba
com a minha vida.
faz umas coisas que eu não faria
diz umas coisas que eu não diria
e usa o meu corpo para tudo isso.
usa a porra do meu corpo, o MEU corpo, se apresenta com essa cara aí e o meu nome.
e depois, como eu explico?
não explico.
porque ninguém nunca vai entender.
nem eu, pra falar a verdade.
mas eu gostaria que essa moça
fosse baixar no corpo de outra.

Clarah Averbuck

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Pistas


Ah, as auto-indagações... Uma certeza agora tenho, revendo "quem sou eu?". Sou professora. Realmente sou professora. Adoro estar em sala de aula! Adoro as relações e as conexões que são estabelecidas nesse ambiente (vale dizer que como professora de artes, o termo "sala de aula" é bem ampliado, pode ser o pátio, a rua, uma loja, museu, etc.). Estar com pessoas em uma situação formal de aprendizado é realmente fantástico. Desde sempre fui empolgada com escola, com conhecimento (na minha família, a única forma de ascender socialmente era, e ainda é, estudar). Digo pros meus: pra me fazer feliz, basta me colocar em um banco de escola. Pois agora, quer me ver feliz, veja-me diante de uma turma, facilitando seu processo de conhecer. Ali se estabelecem as relações e as situações mais incríveis. Por exemplo, encontrar como aluna da pós-graduação uma ex-colega de ensino médio, e nos reconhecermos mutuamente, dando um abraço atrasado 15 anos. Isso sem falar na surpresa diária que é dar aulas p/adolescentes (Adoooro!!). O ambiente acadêmico também é bastante surpreendente. Sempre imaginei pessoas inteligentes pedantes ou com pose de importante. Qual nada, as pessoas realmente com conteúdo não são enfadonhas, se divertem, contam piadas e citam Sartre, Borges e o Analista de Bagé com o mesmo humor e propriedade. Bom, não me furto às questões narcísicas de estar diante da platéia e ser a pseudo-detentora do saber. Como diria meu compadre, pra quem precisa de massagem no ego, é melhor que ser ator. Isso pretendo superar, talvez pensando numa aula freireana, numa oficina, onde todos são responsáveis pelo auto-conhecimento, incluindo o facilitador. É... sou professora e gosto. Eis uma pista. Estou no caminho.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

sonhos


Sonhei com uma mulher morta... Perguntaram-me: quem era ela? Acho que eu mesma. Segui com aquela imagem do sonho por dias. Uma mulher morta sobre uma laje, dentro de um jazigo, um cemitério, à noite. Um corpo velho embalsamado, sendo cuidada, limpa. Eu olhando. O cuidador e a mulher morta. Espanto. Como ele estava se portando assim? Cuidando de um cadáver? Asco.

E aí? O que significa? O que é a morte pra mim? Estou morta ou viva? Quem vive? Quem morreu? A morte... arcano. A morta... era eu? Morrer, renascer e morrer de novo e por vezes renascer.

Não sei, só sei que sonhei com uma mulher morta.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

todo o caminho é sagrado

sim, todo o caminho é sagrado... embora estajamos vendo pessoas enredando-se pelos caminhos da dor, doença e infelicidade, temos que ponderar que todo caminho leva à cura e, às vezes, a morte e o sofrimento são as únicas formas de restar curados. É um pensar cômodo, sim, é. Mas antes de tudo, é um alento quando vemos quem gostamos infelizes. Deixai... todo caminho é sagrado e toda a cura tem seu tempo. Só peço, querida, olhe pra mim! E então escolha o teu sagrado caminho...

segunda-feira, 23 de julho de 2007

errata

Carne e osso - Zélia Duncan e Moska

A alegria do pecado
Às vezes toma conta de mim
E é tão bom não ser divina
Me cobrir de humanidade me fascina
E me aproxima do céu

E eu gosto
De estar na terra
Cada vez mais
Minha boca se abre e espera
O direito ainda que profano
Do mundo ser sempre mais humano

Perfeição demais
Me agita os instintos
Quem se diz muito perfeito
Na certa encontrou um jeito insosso
Pra não ser de carne e osso
Pra não ser carne e osso

Citei errado na postagem anterior e corrijo, reiterando o já dito.

domingo, 22 de julho de 2007

reino de Afrodite

Pois é, já disse há um tempo que temos entronizadas as deusas todas dentro de nós, falo apenas das gregas (Hera, Afrodite, Perséfone, Deméter, etc) que só tenho conhecimento mitológico destas. Então nesse momento, faço as pazes com Afrodite, a terrível, mansamente terrível, já que é pelos olhos de Afrodite que vemos o mundo da beleza, do prazer, do amor. Com Afrodite esquecemos da racionalidade masculina e nos entregamos à estesia, ao sentir físico. Sentir o mundo através da beleza e do amor. Quer mais? E como diz a música da Zélia Duncan que abre a novela das 7: "a alegria do pecado tomou conta de mim e é tão bom viver assim...". Sem estresse, sem preocupar-se com o futuro, apenas hoje e sentir, hedonistícamente. É bom se saber agradável aos olhos de outros. Credo, onde estiveste, oh deusa do amor, nos últimos anos da minha vida? Por que deixei de te render homenagens e presidir teus ritos?
A deusa está sempre presente, como um atributo do feminino que temos inato, mas há que se prestar atenção a ela e a deixar fluir. Cada uma nos é útil, mas Afrodite, essa é imprescindível! Beijos a todos e todas.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

quem sou eu

Aos que querem saber

não sou atriz, mas faço oficinas de teatro e estou integrada em um grupo; não sou escritora, mas escrevo sempre que algo me atravessa a garganta; não sou cantora, mas faço aulas de canto; não sou artista plástica, mas pinto, modelo e teço; não sou professora, mas sobrevivo dando aulas e tenho minha CTPS assinada como tal; não sou cientista, mas tenho o pensamento metódico piagetiano; não sou intelectual, mas tenho alguns estudos publicadas; não sou terapeuta, mas trabalho com um grupo de dependentes químicos; não sou mãe, no sentido do "avental todo sujo de ovo", mas cuido da minha filha com todo o amor que posso manifestar; não tenho religião, mas preservo minhas crenças e meus próprios rituais. É... e o que, afinal, me define? Talvez o ser e o não ser, o yin e o yang, o que me falta, efetivamente, me constitui. Ou, parafraseando Lispector, "eu sou uma pergunta"... para mim mesma.

terça-feira, 17 de julho de 2007

cura

Falei sobre a aceitação e agora acho que subi um degrauzinho, ou é a ansiedade, que não me permite esperar a cura pela aceitação, nesse caso, desci alguns. Já disse que sou diretiva, mas nesse ponto me aceito como tal. Então, resolvi que estou em processo de cura, total e irrestrita, se é que isso é possível. Resolvi começar pelo coração (cor, prefixo com o qual também começa coragem). Curar o coração. Como? Exatamente não sei. Mas estou em tratamento. Quem me trata? Outra auto-indagação. Eu me trato. Ou não. Relativismo (será essa a única certeza? A relatividade einsteniana?). Uma certeza tenho, a cura é questão de tempo, afinal, acredito, ainda que com restrições, nas teorias evolucionistas, não na biologia, mas na questão emocional e espiritual. Logo evoluo, logo me curo. Coração doente, relações doentias; coração puro, auto-amor, relações saudáveis. Trata-se disso e está na mira.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Eu aceito

Não, não se trata de "sim" a um pedido de casamento, em que pese terem pensado alguns no msn. Trata-se de uma questão há muito sendo digerida, pensada, sofrida, enfim. E resolvi que é isso, eu aceito. Por enquanto, melhor seria se eu pudesse dizer, aceito e compreendo. Mas, por hora, aceito. Eu aceito que a minha vida mudou, que se postou uma encruzilhada diante de mim. Aceito que as decisões dos outros me afetaram e promoveram essa mudança. Vale o que restou, eu cresci, aumentei e isso, ao fim e ao cabo, foi bom. E como diz a mestra Sangit, aceeeeite. E eu aceito. Sei que por hora é decisão da razão, mas é um começo. É o vislumbre do mestre, no longe, mas vindo. Eu aceito que tenho uma vida diferente da que tinha sonhado. Eu aceito que depende de meus cuidados exclusivos o ser mais importante da minha vida. Eu aceito que ela não vai ter todo o sonhado (e aí penso, com que direito sonhei por ela?). Eu aceito que a tristeza à vezes volta e que tenho que olhar pra ela, conselhos de Wangmo. Eu aceito que atraio atenções e que nem sempre restam positivas. E por aí vai. Aceito o que as pessoas pensam sobre mim, é delas. Nessa fase, aceito apenas, não projeto, vou deixar isso pra depois. Quero abrir um imenso vazio diante de mim, sem expectativas. Vamos ver o que a vida, o universo, o acaso, ou algo que o valha, me reservam. Sei que isso não dura, sou diretiva demais pra me deixar levar pelo que quer que seja. Mas agora eu aceito. Quando fui tomada por essa decisão, perdemos uma pessoa da família. A dor, o desalento. Não há outra posição diante da morte, apenas aceitar. Menor a dor da perda do que a da quebra da confiança, é uma dor confortante. E eu aceito que posso, muitas coisas, nem sabidas, e que meus medos são menores infinitamente que a minha coragem. Aceito, com a serenidade de quem renuncia à luta.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

ainda a crisálida

Cansativo? Acho que não, pelo menos pra mim e por enquanto. Refleti sobre a crisálida, o casulo, a casa, depois de aula com meus alunos da graduação. Falávamos de Bachelard e a metáfora dos espaços habitados. A casa. Para Bachelard a memória se refugia nos espaços, se abriga neles. Assim, lembramos de muitos fatos de nosso passado a partir de onde estávamos e o ambiente mais vivido era a casa. Após atividade de retorno imaginativo à casa da infância, muitos acessaram memórias, medos, alegrias, saudades, seres. Um experiência única para eles e para mim também. Sempre que proponho uma atividade em um grupo, fica reverberando em mim, por algum tempo. Bachelard também fala que a casa é nosso abrigo supremo, pois abriga o sono, no qual estamos mais vulneráveis, e os sonhos. A casa é onírica, abriga o devaneio, abriga o sonhador. Casa... Pensei nisso por um tempo e me vi "enfeitando nosso barraco" (como diria Ana Carolina) em um passado recente. Enfeitava e tentava aquecer, ah quanto frio passado lá dentro! Até usei o vermelho para torná-la mais afetiva, mas era o que era, uma casa fria, sem afeto, sem calor, como era a vida então. Mas eu a amava e amava aquela vida sem-sentir. É fato, não havia um sentir pleno, quente. E ainda passei um tempo, tentando permanecer naquele casulo, frio, mas conhecido; sofrido, mas onde eu me movimentava de olhos fechados. Hoje, novo casulo, meu, meio precário, mas humano, cheio de sentidos e quente... se aquece com pouca energia e se mantém aquecido. Metáfora? Não sei, talvez mera constatação. O que sei é que gastava muita energia em um ambiente que não tinha condições de se aquecer, inaquecível, se me perdoam a palavra.
Porém, na minha crisálida nova, tenho algumas restrições: aqui só recebo quem eu quero. Não adianta vir à porta e se esgueirar, além disso, não há nada a ser visto aqui dentro, além de uma mulher tentando se encontrar e manter um ambiente de afeto para sua pequena família. Culpados ou inocentes, adentrar no meu recanto onírico, só com minha vontade. Quem sabe um dia? Mas agora, não.

terça-feira, 29 de maio de 2007

vontade

De repente me deu vontade de escrever... será prenúncio da saída da crisálida? Acho que não, apenas vontade de dizer das sensações - reino dos deuses, ilusório, diria a Vanessa. Sei lá, mas sentir é algo que faz parte do humano, eis que mesmo a ciência tem por base a sensação, a percepção através dos sentidos. E o não-sentir o que é? Penso que possa ser um não-viver (não estranhem, ando às voltas com a fenomeonologia e me pego escrevendo desse jeito maluco). Pois bem, não-sentir é não-viver. É fugir das sensações, de Afrodite, do belo, essas coisas. Como dizia minha professora de escultura, é fugir da estesia (adoro a expressão "tive um porre estésico"). E por que fugimos e nos refugiamos no não-viver? Medo, insegurança, ou pode ser apenas um desconhecimento do que seja sentir de fato, com todas as forças dos nossos sentidos, os cinco e mais uns outros que a gente nem sabe que existem, eu pelo menos.
Pois é, estou aí, me inagurando no reino das sensações. Ilusão? Pode ser, não me importo em me iludir com o momentâneo, pelo menos por enquanto. Prefiro isso ao não-vivido.
Um beijo aos meus poucos e selecionados leitores, aos demais: decifrem-me....

quarta-feira, 23 de maio de 2007

melhoras

Como tive três comentários na minha última postagem, resolvi escrever... sinal que alguém lê, logo pressupõe autorização para devanear.

E escrevo daqui, da crisálida, acho que, ainda saindo dela, sempre a terei como referência, lugar de retorno, eterno, pero não constante, no futuro, digo.

A crisálida se reveste de cores, ainda que lá fora se prenuncie o inverno. Explico: poesia... quem não se rende? E tenho me deleitado com ela. Seja descobrindo novos e pops poetas, leia-se Ana Carolina, que sempre impliquei, eis que descobri mais poeta que cantora. Seja o Quintaninha, como dizia Bandeira "não são, Quintana, cantares. São, Quintana, quintanares...", na linguagem do teatro, em bela peça. Adorei o "nasci, e acho que foi a coisa mais importante que me aconteceu". Belas surpresas que a minha pequena cidade reserva, ainda que muito esporadicamente. Também a possibilidade de rever velhos sonhadores, contatos de outras eras, poetas também de atitudes. E Saramago, de corpo presente na minha sala em entrevista à televisão. Reclamando da censura ao seu Evangelho em Portugal, me fez ver a posição de um aluno que produziu o poético rap do "Jesus negão, Jesus negão" (Jesus é o cara, é muito legalzão e só não veio hoje, porque tá pregadão, Jesus negão, Jesus negão) o que causou um certo receio de expor em escola católica. Ainda, né? Quem imaginaria, em tempos de liberdade e democracia. Enfim, a poesia liberta e vivas ao meu aluno querido...

E sigo descobrindo vãos, frestas, onde a poesia se infiltra e espia, retomo cds que já não tinha mais e novoas, frutos de escolhas agora conscientes, filmes, até o Dumbo da Disney, que eu assisto empolgada, enquanto minha filha diz: "não qué fante, não qué fante"...



Da crisálida, em paz. E esperando que mais se rendam à poesia, à estesia e reinventem-se... Quem sabe?

quarta-feira, 18 de abril de 2007

lagarta

Já que não consigo romper a crisálida, ainda que sem consciência, tenho retomado as questões anteriores. Melhor entendido, não me sei borboleta, portanto sou compelida a refletir sobre a lagarta. E aí? Exercício sobre a sombra, no verdadeiro sentido junguiano: a Sombra, que mete medo, pedaços incompreendidos e negados de nós mesmos. Pois bem, metáfora de um animal que jamais eu seria... nenhum vem à cabeça. Vazio. De repente brota ela, horrenda, nauseante: a lagarta, aquela que a gente criança chamava de bicho cabeludo e que amendrontava meus piores pesadelos. Suas características? repulsiva, feia, nojenta, amedrontadora. Essa seria a sombra, aquilo que não quero mais, a negação, o "não sou" que me constitui. E agora? é dessa lagarta que quero me liberar, que espero a transformação, num vôo delicado de frágil e bela borboleta? A quem eu metia medo, dava nojo? Quem me lia pela sombra? Ou ainda me lê? Por que passava essa imagem? A minha lagarta já não tinha os pêlos, já não agredia tanto, mas enojava, era lerda, dependente. O que eu considero a pior coisa num ser, a lerdeza, a imobilidade, a dependência. Isso também eu sou. A solução? Aceitação dessas "qualidades", compreensão, conexão, nunca a exclusão, a negação, isso poderia gerar um ataque da sombra (como acontece em muitos casos, vide massacre na universidade da Virgínia). Bem, rendo-me a Jung e sigo crendo nos seus arquétipos, principalmente daqueles que falam da transformação. Por enquanto, aceito a lagarta, mas ainda não sou borboleta.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

espiada

Dei uma espiada para fora da crisálida. Foi incrível. Olhar pra fora, sabendo que estava protegida pela película. Foi uma experiência nova, assustadoramente nova. Aula de teatro, criação de personagem, até aí tudo bem. Afinal foi uma das formas que, creio, pode me levar pra fora. Mas o desafio estava por vir, o personagem tinha que sair na rua, interagir. E aí? Uma louca cheia de carências e negações, viciada em remédios, que eu tinha criado e que emprestava a vida. E eu que me acreditava tímida e incapaz de erguer os olhos em algumas situações, fiz, dei um corpo à Dalva, louca. E agora, que sei que sou capaz? Que medo, credo. Agora não sei mais quem sou, não sou tímida, sou capaz de coisas que não sabia que era. Meu Deus, quem ousa desafiar uma mulher dessas? Eu que não...

quinta-feira, 29 de março de 2007

ainda a crisálida

Parece uma coisa, quero sair, me libertar, já quase consigo, mas algo acontece, às vezes é um nada, às vezes deveria ser. Mas retorno, recolho as asas. É, talvez não estivessem bem prontas, talvez as cores, a vitalidade, a força, ainda não atuassem na sua totalidade. Ou o medo me fez recuar. Acredito que a seu tempo eu me lanço ao espaço, como uma asa delta, sempre quis, confesso. Por enquanto não deu. Não me culpo, ou me culpo? Já era tempo, penso, ainda é cedo, dizem.
A crisálida é confortável, lugar de descobertas. A minha é escritório inglês do século passado, com mobiliário de madeira nobre e escura, lareira, poltronas de pés curvos e tecido nobre em capitonê, chá fumegante na mesa imponente, janelas abertas pra um jardim bem cuidado, cortinas florais e livros em uma estante protegida por vidros, um cachimbo (sei lá, Freud explica) e cheiros, muitos, delicados, não perfumes, apenas cheiros. Daqui olho o mundo, daqui experiencio e me experiencio. Daqui aguardo. Observo...

domingo, 18 de março de 2007

Hoje vi uma reportagem na televisão sobre as borboletas... Disseram que borboleta é todo o conjunto da vida do inseto, desde a larva (aquela lagarta que povoava meus piores pesadelos da infância) até restar belíssima e esvoaçante. Nós chamamos de borboleta o que na verdade é o estágio final de todo um processo, mas a borboleta é, desde a larva.
Então, posso crer que esse processo de estar contida, meio larva, meio sei-lá-o-que, no bardo, como diria a Vanessa, já me faz borboleta. Ela já está contida em mim, já é, como diriam meus alunos.
Resta saber porque não me sinto como tal, porque não posso simplesmente esperar que surjam as asas e os vôos de liberdade e felicidade. Será que a larva já se sente borboleta, ou será que ela também se surpreenderá quando surgirem as cores, a beleza, a possibilidade de vôo?
A borboleta é símbolo de transformação, mas e a crisálida? O que simboliza? O luto, a dor, a indefinição? Ou a possibilidade de transformação, de crescimento? E antes da crisálida? Quem eu era? A larva? Arrastando-me e soltando espinhos e venenos?
E em que espécie de borboleta me transformarei? Com que cores, que atributos?
Penso que a crisálida representa esse estágio de dúvidas, de recolhimento.
Por enquanto, é um lugar aconchegante pra mim. Por enquanto, a borboleta me assusta. Mas ela já é... então, não há como fugir. Aguardo.

segunda-feira, 5 de março de 2007

Metamorfose/transição

Transição, essa é a palavra...
Segundo ainda as definições de Chevalier e Gheerbrant, mais do que um envelope protetor, a crisálida representa um estado eminentemente transitório entre duas etapas do devenir, a duração de uma maturação. Implica a renúncia a um certo passado e a aceitação de um novo estado, condição de realização.
Frágil e misteriosa, como uma juventude cheia de promessas, a crisálida inspira respeito, cuidados e proteção. Ela é o futuro imprevisível que se forma. Na biologia, é símbolo da emergência.
A pergunta é, por que fazer um blog? Por que expor essa minha condição de crisálida?
Nesse momento, não saberia dizer... Talvez porque tenha pedido aos meus alunos que criassem um ambiente virtual de onde seriam avaliados, talvez por uma necessidade narcísica de expor meu umbigo, talvez porque queira forçar a Ju a escrever comigo, talvez porque tenha uma necessidade autonegada de escrever, talvez e talvez... (perhaps que põe medo).
O fato é que realmente não sei... mas cedi ao impulso e cá estou, compartilhando a crisálida e esperando dela surgir um ser, que ser, que mulher, que mãe, que amante, que Lilian?
Talvez tantos questionamentos só venham a ser satisfeitos assim que a crisálida se romper.
Por enquanto, fico por aqui e compartilho com quem quiser.

domingo, 4 de março de 2007